segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Menor que

Jogo com o corpo para sua falsa atitude,
sufoca a negritude dos meus sonhos,
torce da arquibancada, olha a ola,
a onda da rosa toda despetalada,
mulher com grito enrascado,
dança com passo tropeçado,
toma o meu pecado,
o único do mundo,
diminui tudo,
vai indo lá,
não sei,
esque
ce.

Se,
bem que,
a usura minha,
a fratura que opera,
joga pra cima o odor,
não ligo pra dor já que ela,
ela liga pra mim do jeito abrupto,
pensam de mim a maneira de dará,
não darei mesmo o que não posso pescar,
a minha ponta de lança é de doer coração ouvido,
tudo bem que o mal me quer é a nação rubro-negra,
os cantos em que jogo são cantos de música em fim de festa,
sou o desânimo que me roubaste, a vírgula fora que atesta, você não presta.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Empoeirado

Aos passos do Deus quase onipotente, o forró toma conta da vila. Não tem casebre nem fila. Tem gente boa e malandragem crua. A lua cheia só vem pra somar o quadro de barquetes e barconetes feitos do nordeste. Estou fora de latitude. O suor que toma conta da dança me lembra o samba que afiava ponta de lança. Não é atoa que errava o passo. Não era samba, não era frevo. Era o mesmo que abalava a folia da sua alma sobreposta. Era a brasilidade que ecoa. Era a risada safada de todas as noites afogadas em núpcias.

Era a muié, era o homi, era tudo que te consome. Era dois pra lá, era dois pra cá, era a dois que se fazia cantar o sabiá. Era apenas dois elementos, o corpo em movimento e a música pra sintonizar. Não tinha problema, náo tinha sinhá. Tinha um calor ardendo pra lá de lascar. Não era Miúxa ou Robertinho Menescal. Era a tritura do liquidificador paradoxal. Era a mistura brasileira batendo asa feito pardal. Não tinha crítica, só tinha mística natural.

O nosso rock n roll era a dois, o nosso apetite sexual era regrado às coxas. Te pego para lá, te pego para cá, finjo que vou e volto. Sou uma dança namoradeira. Sou uma puta enrascada. Toda enrabichada pelo trabalho em que dedico essa dança malemolente. Arde que nem fruta decente. Tinha sorriso, tinha choro do cavaco. Tinha um gosto doce e a cerveja com um tom amargo. Nada de amargura, nada de frescura. Era um pé atrás do outro. Era um beijo gostoso, era uma mão boba saliente. Tirem as crianças da sala, coloquem-nas no arrasta pé, no arrasa quarteirão, no arrasta corpo a corpo. Ataque e defesa pessoal em dança pra lá e pra cá.

Tinha uma moça em que me apaixonei. Tinha uma coisa em que me encuquei. Não adianta chorar o passo derramado. A sina de um forrozeiro de mal com a vida é a vida que maltrata o passo. Não tropece na lama da emoção e nem na neve da ilusão. Isso aqui é Brasil e o que tenho a oferecer é um baita tesão de dançar o forrózão.

Dois pra lá, dois pra cá - que calor, vem aqui, tesão, me dar aquele giro de alegria.
O forró não é triste, o forró não vira alpiste. Apenas vira o baião que coloco pra dentro do teu coração.

Vem coisa linda!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Manobrista


Não sei se sinto calor ou frio, se o que me queima é o suor ou o Rio. Perto ou longe de você me faz perecer 1 kilograma de alma. Enquanto olho pro chão, enquanto encontro o não, pareço ermo, seco diante uma chuva de verão. Chuto o aguaceiro para a minha ira tomar as gotas da alegria. O passado fica mais distante, meu passo está mais adiante na esquina vazia. Meninos e meninas soprando bolhas de sabão como eu fazia. As gotas grossas de chuva sabotam as bolhas de peripécias infantis como enroscam na minha pele fosca que arde depois de um devaneio de prazer solar.

Um homem que vaga, não falha. Preenche. Eu não vago. Estou vago. Do teu sorriso em minhas orelhas, das tuas risadas em minha boca, da tua carne na minha alma, da tua companhia na minha satisfação. Que queres? O que eu quero? Sabes. Perto de um frescor que bate em minhas entranhas, sigo coisas desconhecidas, me perco em veias estranhas, do qual a incerteza é dada como certa. Escrevo porque enlouqueço, te quero porque esqueço de tudo que me corrói, mesmo sabendo que o meu atual corroer é não ter você.

Já não me sinto especial, mas sei que especialmente tenho uma surpresa para você. E que os fogos na rua, a arranhura na garganta, as inconsequências que venho a tomar, são os desequilíbrios que teu sorriso, tuas risadas, tua carne e tua companhia me vêm ausentar.

Estaciona. Estou vago.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

VidaMágica *~@:;__;:@~*


O que eu acho neste mundo fantástico é muito irreal. Nossas fantasias inventadas nos desviam de entender que somos química. Poeira estrelar nos criou. De poeira das estrelas, somos. Não sei se a química entende o que é a felicidade. Tenho suposições que seja a energia liberada quando unem-se dois ou mais elementos para formar um só elemento.

Entender essas coisas nos ajuda a sermos mais colaborativos. Somos muito castrados por regras impostas pelo Estado e pela família. Talvez nossa castração colaborativa afetada nos guie para vias de pouca participação rumo ao progresso comum, no quesito sociedade mais respeitosa e criação de novas facilidades e ciência. Somos constantemente bombardeados por inúmeros aspectos morais da mais rígida percepção.

Isso me leva a pensar no significado da palavra Livre. Não somos livres, tanto como de corpo, como de alma. De alguma forma você fica preso na limitação. A não ser que liberdade seja navegar dentre suas limitações. Via a palavra Livre como aspecto radical. Mas agora sei que radicalidade pontencia a própria percepção de outra palavrinha chave, Limite.

O céu é o limite - diriam alguns. Mas o céu sempre estará em forma de céu assim que chegar na fronteira de outra aventura cósmica não revelada. Talvez lá seja um universo que não exista preocupação, somente ação-(in)consequência, formando assim a mágica poeira estrelar.

ps: os símbolos que estão no título servem para que depois de você ler o texto, olhasse pra aqueles símbolos e imaginar dois caras com um olho só fazendo biquinho. Ou pode ser o que você quiser. Não tenha limites.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Apenas um relato de uma proposta

Fez caricatura. Um mundinho tão particular, tão diminutivo, mas tão mágico. Outro dia uma menina no ônibus questionava a vida além de comer, dormir e morrer. Ela esqueceu de viver. Ela esqueceu da fantasia, da ilusão que nos mantém desse jeito tão alienado e, ao mesmo tempo, inconformado. A música, nosso parque de diversões, nosso trabalho lúdico, tudo que consome nossa alma e deixa o tempo consumir o corpo.

Olhe para trás. O que mais te impede de ir comigo? Basta lembrar do que a vida tem de tão monótona e do que ela tem de tão fantástica. O que difere entre as duas coisas é a vontade de fazer acontecer. A minha, tem a minha palavra. Levanto os braços para o imaginário assim como mergulho em fantasias improváveis em um mundo tão irreal.

Um provérbio chinês diz que 'um homem só envelhece quando os desejos dão lugar às lamentações'. Tenha desejos tentadores comigo que lamentarei o fato apenas de não ter mais tempo para continuar as nossas loucuras. O mundo já é tão louco com furacões, terremotos e estrelas cadentes. Não podemos ser apenas meros espectadores. Pare de assistir a TV e faça sua própria programação. Mude o meu canal se der na telha, me jogue na lama para tirar a minha chatice. Vou entrar em todos os lugares com você no meu colo para acharem que somos recém casados. Mal sabem eles que somos casados com a vida.

Quando acabar o dinheiro vamos dançar tango na rua ou dar um golpe naquele maltrapilho safado. Vamos fazer guerra de comida com carpaccio e matar a fome com podrão à moda antiga. Vamos brigar para lembrarmos de nossas diferenças e vamos nos conhecer melhor para lembramos das semelhanças. Vamos fazer um teatro no meio da rua de qualquer cidade. Somos de Riowood.

Este relato poderia ter mais de 100 páginas, mas quero ter mais tempo de viver com você do que de escrever.

sábado, 2 de outubro de 2010

Afasia

Todo gozo da vida é assim. Irradia, meu bem. Isso não é um corpo, é um contexto inteiro. Isso não são olhos, mas diamantes visionários. O pescoço arrepia com meu bafo amargado pela sedução que me toma conta. Olhos apertados para aumentar o foco do desejo. É melhor eu não contar até três, me dê logo esse beijo. Seu suíngue é a cachaça do esquecimento. Esqueço de tudo e de todos. O que há fora deste quarto eu jogo pela janela. O que há com ela que tudo ficou vermelho? As veias estavam derretendo de euforia. Ignoro a correria. Minha marcha é feita com os dedos em suas costas nuas, peregrinos de uma área recheada de minas prestes a explodir. A única coisa que explode, na verdade, é a derradeira paixão. Cega meus pedidos, clama pelos alaridos, me chama para o encontro final. Seu corpo no meu é a austeridade dos sentidos. Um abraço desabrocha a vontade contida anteriormente. Todo aquele tempo para resultar em um momento único. Aquele momento em que as velas viram flores incandescentes, os quadros viram janelas resplandescentes, os braços viram as mais cuidadosas serpentes. Joga pra cima toda aquela fantasia, deixa sua boca entrar em afasia. O modo em que tomo suas coxas é do mesmo modo em que arranho tua alma sedenta. Não espere um suspiro, se soubesse todos os suspiros que lhe dei, sem te deixar notar, não ousaria fechar os olhos para ser arrastada pelo arrepio intermitente.

Estanca essa ferida, seja o amor da minha vida. Jogue em mim tudo o que quisera dar a alguem. Posso vir a falecer, mas que eu renasça em forma de desejo. Quem sabe assim, todos os sabores da natureza podem se resumir ao teu beijo.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Verdade

Não sei. Mentira. Queria muito ter o que aconteceu quando adormeci. Quando o afastamento físico era finalizado e aquele abraço forte e carinhoso era acionado. Minhas pernas tremem. Não tremem por um pivete em Ipanema na alta madrugada, tremem por saber que você está por perto, não ele. Eu queria que me assaltasse. Você e não ele. Me tomasse de assalto e me colocasse na parede, mas a minha mão fica solta. Você a soltou. Não queria, mas o fez. Aqui não. Lá sim. Me insinua para o seu ego, mas não me consome senão te pego. Uma briguinha às vezes sem fundamento de gato e rato. Onde nenhum dos dois se dão bem. Fingem que dão.

Não olhe para trás. O banco de trás cabem 3, aqui na frente cabem apenas nós 2. Quem fica na direção do carro pouco importa, todos sabemos onde acabaremos indo. Um lugar onde a chuva não é ácida, o sol não arde e a nuvem não obnubila a visão do meu paraíso: Você.

Sinto o tempo passar e não aproveitar cada gota de suor que cai da sua exaustão, cada risada sua massageando meus ouvidos, cada elogio difícil de tirar, cada charme que tenta arranhar. A provocação me dá um tapa na cara de malandragem esquecida. A sedução visual é muito mais propensa ao lembrete de um vinho bombeando emoções aos corações aventureiros. Eu sou muito equilibrado. Preciso do seu lampejo, seu desiquilíbrio desenfreado para perpretar uma vida mais bem vivida e cheia de histórias para fazer e contar.

Não quero correr contra. Quero correr com. Posso te acompanhar de carro, de moto ou de desespero, mas que eu tropece no meio do caminho e me finja de morto só para te agarrar na emoção com um beijo inesperado. Me jogar no mar nú de preocupações e atear fogo em cada grão de areia que ousa nos tocar. Não tenha medo da vida. Não tenha medo de mim. Fui um envolto de minas terrestres prestes a explodirem. Perdi um pedaço do coração, mas ele ainda consegue andar em sua direção.

O por quê eu não sei, mas vem comigo que eu tento te explicar melhor.

sábado, 11 de setembro de 2010

Qual?

Alto lá! Não fale assim, não. Os restos de ti rasgam o desgosto. Como a busca da água deve ser pela sua fonte, a busca de tuas ingações se revelarão na matriz. O perfume não pode ser sempre de cânfora. A putrefação agrega valor à vida. Uma estrela brilha muito porque tem energia acumulada. Não sejas uma cadente, mas sois. O mundo é maravilhoso e complexamente simples. Descobristes agora e o que o queres pra si.

Vai, vai, vai, vai. Não vou. 'Bem melhor seria poder viver em paz, sem ter que sofrer, sem ter que chorar, sem ter que querer, sem ter que se dar. Mas tem que sofrer, mas tem que chorar, mas tem que querer pra poder ...'. Ah! Que mundo enganador! Correr para a festa dos deuses, ou festejar a corrida até lá? Brilho eterno de uma mente sem lembranças.

E se arrepender? E se proteger? Aventura ou conformismo? Aventura toda hora ou conformismo toda hora? AHHHHHHHHHHHHH! Não dá pra ser os dois? Anestesia. Respires com calma. Cânfora e o bem-te-vi na janela alentam. A praia no inverno deixa o sol com toque suave. Sorriso e conformismo. Vida social dá um pequeno hiato. Pequeno o suficiente para saber que há muito mais coisa ao redor além da minha pequena existência.

Eu quero transar com o sol ou casar com a lua ou trair o vento ou beijar a insatisfação ou lamber a terra da realidade.

Matemática louca das escolhas:
Ou = +-
E = ++ (e + com + = -)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Retrato de uma mulher

Procure onde quiser, neste mundo em preto e branco sois o sarcasmo da poesia. Não precisaria mais que branco, cinza e a sombra do preto para ser vívida. A ironia da língua sem abrir a boca. O pano em que envolve, o pano em que dissolve seu organograma corporal. Não haveria beleza clássica. Não lhe faziam menção nos livros de arte. Saibas que isto não ocorreria em absoluto. Tu és o livro inteiro. O livro em que devoro. Não é necessário palavras onde a hipnose ficava por tua conta. O caminho em que fazias na areia era arte, poesia dançada. Uma labirintite natural, charmosa e com sal. Quando eu procurava um certo nome de cinco letras, a arte parava. E girava em torno de si. A arte tinha nome e estava no meu quadro. A idiossincrasia se fez, finalmente, em um ato simples e cotidiano. Mas o fazia com a abruptidão da leveza. O vento que batia no rosto era a energia do seu movimento, nos cabelos pretos da maresia, na tormenta em que em meus olhos fazia. Tua sombra tinha inveja. Queria levantar-se do chão e pegar todas as suas verdades verticais, assim como o sol ao meio dia de verão. Tua marca do verão tinha rabiscos da primavera, das flores que estavam distantes, mas que exalavam por dentro de sua membrana dócil e enérgica. És maior que um prédio. Demolição do estático - embora sejas agora. As ondas não querem arrebentar na areia. Querem ter a certeza que estão em sua direção, pois tu indicas que o fluxo da plenitude e da simplicidade trazem correntes além-mar. Correntes que expiram um sopro de vastidão. A mesma que encaro agora. Não deixes que.. Esquece. O meu comando é inútil frente à exaustão que o prazer singelo do teu olhar humano me estupefaz.
Não é nada, não é nada. Esquecerei disso jamais.

sábado, 28 de agosto de 2010

Des-liga

Pra quê escrever? Essa é a minha música. O tom que sai da sua boca me hipnotiza como o nascer do sol em plena ressaca de espírito. É um tom criança, é um jeito maduro. Vai ver não consigo olhar pros seus olhos enquanto fala comigo por causa do carinho em que sua voz amacia minha audição. É o mesmo quando recebemos um carinho enquanto estamos abraçados. Fechamos os olhos de conforto.

E vou confessar. Estou precisando fechar os olhos. Feche meus olhos. Pode não abrir minha boca, mas explore meu tato. Assopre meus arrepios da saudade. Quando abrir meus olhos e não te enxergar, que eu assista o balé lento das estrelas na noite. A praia faz enxergar o ar através da maresia, suas risadas e seus devaneios sem nexo formam uma harmonia sublime.

Cheiro de chuva, mas a terra molhada é a que deito sem titubear. O vento não faz mais barulho, são agulhas vindas do céu para massagear minhas costas. Uma máquina registradora de momentos bons. A eletricidade não vem do poste. Desce a luz e corrompe o suor das minhas mãos, obviamente, sedentas de novas explorações em teu colo decotado. Envolta de tua camisa xadrez quase social, a saia que entrava a maresia despertava um certo ciúme, uma humidade relativa de tesão.

É melhor fechar os olhos. Nós dois. Se os olhos são os espelhos da alma, me faça refletir quem eu realmente sou. Me faça gritar por dentro.

Apague a luz de fora. Acenda a de dentro.

domingo, 15 de agosto de 2010

Voe lindice, voe

"Moça bonita que tá na janela, borboleta da asa amarela" já dizia o bate cum dum. Na fulerage dos cabra macho que arreda os pé da mulecage, as muié acha tudo e todos um bucado marimbento. Noutro dia que os outros azuclinava a vida da Jurema, coisa mais arretada de toda Rio Grande, Padin Ciço acoita os cabra que são boa gente que nem eu mesmo, sim senhô.

O meu coração quando viu essa lindeza perrear ficou todo zambeta, ingurujado e arretado como nunquinha, vice? Balangava aquela saia rodada num forró danado de atarentado. E atarentado mesmo era os cabra que não conseguia acompanhar tamanha lindice.

Os fi duma égua ficaram cum os zóio tudo esbugalhado. Dei um chega pra lá e o arrasta pé ficou charfudo. Empurrei os fulero pra dentro da caçamba e levei a sinhá pra bimbar na minha geréba. A muié falava de um tal de Sudeste, que o buraco ficava mais embaixo, que a tapioca de lá era mió mas não tinha os tempero daqui da rede. Tarvez a minha balançasse mió, vice?

Cinco meses depois dessa besteragi, a muié da lindeza me aparece embuxada e põe a culpa num tal de Nordeste, no cabra que ataiava ela cum força e que arriava qualquer chance da lindeza bater asa por si só. Mas se um dia nois dois vivesse, além de acoitar a minha muié bela, pidiria pra essa lindice apagá o fogo da panela e se colocasse na janela, borboleta da asa amarela.

domingo, 8 de agosto de 2010

Repe(T)ir

No alto de seus ombros delineados penetra uma onda de choque. São particulas de saliva fria que se chocam com a pele tensa e bem quente. Cheia de energia que perturba agressivamente nossa noção de equilíbrio. Tontura é bem-vinda. Chega. Chega mais. Chega. Chega mais. O sentido das palavras se misturam para serem devidamente fragmentados pela desorientação. Se existe o teto preto, o teto branco se criara neste momento. Qual relação que a gente tem agora? Corporal. Corpo. Chega. Chega mais. Chega...

A minha mão é um fio desencapado. Curto-circuito. Isso que quero. Um circuito curto para as energias circularem com maior ilusão. O cérebro sente e o coração fica entregue. Só o tesão é páreo para o coração. Suas entradas são as minhas saídas. A minha saída. O olhar serve para abastecer a cena incomum. Os famosos detalhes por dentro das indestrutíveis quatro paredes. As paredes anti-voyeur.

Seu véu é tirado com os meus dentes, sedentos pelo choque corporal. Sem equipamentos elétricos. Só a nossa pele, carne, osso e vida. Esses choques servem para eu lhe degustar como se fosse a entrada do grande prato principal. Com muita maciez e provocação. Quero que você se angustie pela minha língua. O que ela faz é capaz de virar os seus olhos para cima, além da confirmação do desejo pela vida. Pelo desejo de poder repetir a dose. Bebe. Pode beber. Agora que está vendada, algemada e com o corpo de como veio ao mundo.

Cubo de gelo te serpenteiam, minha carícia gera confusão mental. O domínio do corpo e das sensações ficam hipnotizadas. Seu seio preenche a minha boca. Sua boca é mordida por você própria, o que eu ouço é de se pedir mais. Mais. m.. mais. Meus dedos agora estão se esquivando do teclado e o meu prazer está molhando.

Chega mais. Sai de onde quer que esteja, seja a minha cerveja. Deixa eu ficar bêbado de sua química, de suores degustados língua por língua. De sua bunda fria e minha mão fervida de sede. Meu corpo contrai. Nunca uma contração seria boa. Colado à você é, não só bom, como é o jardim dos meus Deuses desacreditados. Sua barriga é mais sensual do que muitos esconderijos corporais. Sobre estes esconderijos, me torno explorador de uma terra virgem onde cada passo é cauteloso e a recompensa é exorbitante.

Cavalga e troteia teu corpo assim como uma máquina incendiária, um bombeiro que não ousa intervir, uma princesa que tome conta da sua majestade. Com ou sem mãos forçadas contra seu peito inchado e hesitante, leva este agreste pro paraíso que disseste. Chega. Chega mais. Arrepio. AR-RE-PI-O. Tá sentindo? Não? Lembra daquele amasso gostoso quando poderiam entrar em qualquer momento? A porta estava destrancada. AR-RE-PI-O. Falta de AR-.

Ch..Mais. Estou no paraíso, me morde. Me chupa. Me beije. Mate-me.












Morri.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A Emoção Fala

Nós. Depois de 'eús' me batizei no encanto. Você, essa coisa excitante que perdura no âmago. Saía da porta como a princesa do cometa, a vertigem da roseira ou a definição de desejo. Vi seu blackberry apitando a cegueira de uma mensagem falsa, desconexa e carente, aquela que hipnotiza teu rancor. Os cabelos ruivos não lhe envaideciam, apenas realçava tua face com corpo democrático. Naquele olhar perdido, acabava de não ver tua presença, só entendia o bater do meu principal órgão. Não precisamos ter cérebro para amar. O cérebro só serve para que saibamos que estamos amando. Um vento passava e meus cabelos curtos conseguiam balançar sob o perfume do feromônio incandecente.

Num texto nervoso e mal escrito, além de me dar conta de que estava embasbacado, vi que o amor é um entorpecente poderoso. E isso tudo mata, vive, inflama e desonra qualquer pensamento racional aceitável. O céu e o inferno são os limites, definitivamente. Aventura não é escalar o Monte Everest quando se pode amar e um dia gozar e no outro beijar o chão. Este é o nosso céu e inferno.

Conheci o profundo para o Sul e você me olhou pelo Nordeste, não havia seresta ou coisa que o valha. O Norte fui descobrindo e o céu era o fundo de sua pupila contraída. Sua pele branca reluzia a saia rodada com paetês sem marca e seu sapato que te deixava 10 cm mais alta do que eu. Não dá pra falar mal de alguém que me importo tanto. Até dá. Mas concordo que seus trejeitos lembravam a minha infância sadia, serelepe e preocupada com o sorriso da vida.

Sua mensagem privada na internet ficava como quadros estatelados na minha parede. Suas pernas eram dois irmãos e eu te amando era o Vidigal. Tua calma era a brisa da Gávea. Teu carinho era o sol de inverno. A ponte separava a vontade de ser um só continente, por mais que a gente tente, não há prazer melhor que acalente. A saudade era a nossa sala de estar, o filme que assistíamos era um motivo para uma lasanha e o vinho era para provocar as nossas verdades.

Nós temos o passado e o presente como um constante vai-e-vem, um trânsito livre e desempedido de vias alternativas. Como é que você me chama? Os nomes se adocicaram e entraram em uma foto redonda. Inesperada. Me chama de diversão. Preciso destas risadas joviais e lembrar de rir do nada, porque o nada preenche e toma o coração.

O vermelho que jogas no vento é sangue da sedução, a medusa rubra. Teu decote sutil desmonta esperanças de um pensamento mais capitalista. Socialismo, socialismo. Precisava me socializar com você. Se relaciona. Vem cá, me beija e me deixa rouco. Arrebenta a corrente da loucura e deixa dominar. Porque um cão feroz só freia depois de aniquilar a loucura da presa.

Me coloco a sua disposição e da sua companheira de quem queres que eu tape a boca com meu peito repleto de vontade viril . Teus desejos libertinos não me provocam desgosto. Tens o meu grito junto ao teu. Os populares não conhecem as nossas quatro paredes, mesmo não temendo a ausência delas somos ousados. A malandragem eu visto agora, sua molecagem eu faço o convite para o retorno. Sou um ímã e te tenho colada a mim. E a ela.

Deita no sofá, quero ser seu analista, descobrir teus sorrisos em falso, não como eles aparecem, mas sim para ter prazer da sua falsidade fake - mal feita. Aquelas pintas que eu livaga um novo zodíaco me entretiam como um brinquedo novo de uma criança. A impressora gerava mais um retrato teu. Preto e branco. Ambos mais harmônicos que a sua real figura em cores. Praia e grama. Estávamos perdidos em um país só nosso. Onde eu era o lacaio e você era a governante. E vice-versa.

O coração fala, elogia e tende para interesses próprios. É o vício do prazer de amar. A única droga que vem de dentro pra fora e faz o Everest ficar apenas a 1 metro e 65 centímetros.

domingo, 18 de julho de 2010

O motor inesperado

Descubro pessoas sem motor. Às vezes procuro o meu. Se ele me impulsinona para que lado. Se o volante anda hesitante. Garanto que anda excitante. Razões e emoções são fortes demais para eu saber qual eu deixo de lado. Será que tenho que me derreter? As emoções me assustam. Não todas as vezes.

Ônibus lotado, ocupo o assento preferencial. Não entram idosos, tãopouco grávidas e deficientes. Entra uma jovem. Garantida de coisa pior que acabara de vivenciar, ficar de pé em um ônibus atônito era apenas mais uma forma de castigo, de lástima. Perguntei-me de forma galanteadora malandra se era heresia dar o lugar para uma rapariga de boa saúde ou de negar à um necessitado. Devaneio óbvio. Óbvia foi a ação. Não me movi.

Olhos brilhantes, ouvia um grunhido vindo de seu ressoar. Ela está chorando? Não.. Apenas anda resfriada. Rio de Janeiro anda resfriado. Ela não podia? Sim. Ouço mais três, quatro vezes. Reparo e olho todas. Ela não desgruda do seu celular cabisbaixa com as duas mãos em manuseio. Seu corpo somente se apoiava pelo tronco em um ferro, de costas para onde todos não ousavam virar. Havia algo de errado.

Minhas 24 horas anteriores foram as mais inusitadas de que me recordo. Sem a minha máquina do desejo ligada só aspirava um destino diferente em uma noite de sexta-feira chuvosa. Sem muito alarde, apenas algumas risadas que guarde no inesperado. Vodkas, novos amigos e artifícios virtuais me corrompiam até o botão da sobriedade sobre tudo ser desligado.

Muitas nuvens e nevoeiros aquosos mistificavam a lagoa Rodrigo de Freitas. Uma grande janela indiscreta, de Hitchcock, foi aberta e inspirada para odiar tudo aquilo lá fora. Um roteiro feito, muitos vídeos de aprendizes e uma certeza de ligar o botão da sobriedade fora daquele inesperado lugar. Já era noite, perambulava para o meu ponto. Acompanhado apelas por quatro Lager Beers rejeitadas pela Vodka. Ao longe leio: NITEROI. Ao meu corpo vibro. Era o celular. Ele me fez dispensar o meu rumo principal. Talvez aquele ônibus não tinha nenhum motor para mim.

Minha carona de passeio inusitado estava por vir e quase não tomo um rumo mais inusitado. Vejo batedores na rua. Alguém que tem poder. Será que eu não tenho? Acho que para isso que servem os batedores. Para me evitarem. Assistindo a cena lembro que o presidente da Comissão Européia é o único com poderes extra em visita. Por pouco minha Lager Beer não é lançada como um manifestante de esquerda tradicional o faria com muita eficácia. Minha postura foi o olhar de nojo. Certamente o blindar daquele carro não cerceava meu olhar.

Dentro do carro explico estas precedentes estrofes e rumamos para um lugar de alimentos japoneses de última moda. O motor esquentou. Não para mim. Para um casal de mais de 50 anos que se depredava no meio da Rua Humaitá, soltando os leões num lugar onde os próprios leões davam nome. Vagabunda. Insolente. Eram os nomes dos infelizes. Hora de ir embora. Eles para lagoa e eu para a voluntários da pátria, onde meu ônibus faria itinerário. Olho para trás e ele acaba de virar. 1001 vermelho no azul. Era ele.

Operação caça ônibus foi sentenciada por um deles, entramos no carro como se fôssemos policiais atrás do bandido fugitivo. Atrás do motor que eu precisava. Do bandido do motor. Rumamos pelas entranhas do Humaitá e rasgamos Botafogo como podíamos. Os sinais eram vermelhos e verde eram as minhas Lager Beers. Cogitamos Largo do Machado, mas o aterro era sufiente. Peguei o meu motor de supetão e o motorista respondeu ao meu agradecimento como o tal bandido, rendido como numa blitzkrieg mal colocada no tempo.

Ônibus lotado, ocupo o assento preferencial. Caem as lágrimas da rapariga. Concluo em um devaneio virtual: 'essas foram as 24h + inusitadas ever! (e ta caminhando pra 25!)'. Levanto com calma e com certeza. O ar era pesado e ela desacordava da real situação. Pode sentar aqui, por favor. Não, muito obrigada - disse surpresa. Pode sentar! Não, eu passei muito tempo sentada, não precisa mesmo. Você pode fazer isso por mim? - coloco a mão no peito com os olhos penetrantes e sabidos de sua insapiência. Tá bom.

Sentou-se derrotada por si mesma, mas sabendo que alguém se importa por ela, mesmo não sabendo o que lhe aconteceu, se esteve certa, errada ou inerte à situação vivida, tal ignorada, talvez respeitosamente, parcialmente por mim. Seu celular ficara molhado. Estava conectada em um sistema de mensagens instantânea, talvez com o tal problema. Estava visivelmente incrédula e só pensava que o abraço que eu podia lhe dar era o assento. Um lugar um pouco aconchegante onde poderia olhar seu vazio pela janela. Ou mesmo descobrir que lá fora respira sem as lágrimas da tristeza, mas sim com as lágrimas de uma chuva que semeia um novo começo.

Pronto. Acho que achei o motor de que precisava. Ou não. Foi um motor que me impulsionou para um olhar externo. O coração sofre. O olhar também. As lágrimas são como hemorragias simbólicas do coração, prestes a explodir. Mas que o motor seja reabastecido sempre, para ele não parar de funcionar e eu ter um assento para oferecer.

'Obrigada.' 'Fique bem, tá?' Sorriso.

sábado, 3 de julho de 2010

São Paulo

Os táxis são brancos. Talvez para destacar algo naquele mundume de sujeira, de cinzas pré-pretos. As motos são, por hora, sonhos realizados de filmes falsificados vendido na rua que tem nome de data. A mesma data que é comemorada o dia nacional da comunidade árabe. Mas a data de agora é recheada de neblinas pela noite.

Uma noite de comidas saturadas por aqui espanta-se o frio. Assim como andar em uma grande minhoca motorizada com garçons, guardadores de carros, biscates e adolescentes sedentos por lançar novas tendências fashionistas. As ruas são da mesma largura de onde venho. A diferença é que as calçadas por aqui são meros brincos inúteis em uma conquista amorosa com seus enlaces finais.

Em rios consagrados que se fazem a navegação turística por outros lugares do mundo, aqui é a repulsa por completo. O espelho dágua barrenta que perpreta nossos olhos é o mesmo que invade com tristeza nossas falhas nasais. Os parques com árvores são imensos para dar a falsa sensação de um lugar verde. Um verde cinza. Em greve vívida de cor.

Estamos em um lugar que seu sinônimo é status quo. O luxo falso nova iorquino empurra a lavagem cerebral para o ter. Mesmo que eu tenha o bastante. O bastante por aqui é excitamente pouco. O carnaval é produto de samba atravessado. O nordeste do país empurra com a esperança. O sudeste agradece com a bonança.

Os shoppings são quentes para tentar aliviar a inevitável frieza dos impulsos pessoais. A sensualidade se limita ao decote de seios enrustidos por ar puro. Não se notam as pernas, a leveza. Tudo é pesado. Talvez na tentativa de serem a metáfora de prédios arranha-céu envidraçados e concretizados. Prédios são oponentes, carregados, porém frios.

A praia daqui são as vitrines. A água de côco daqui é refrigerante. O samba daqui é eletrônico. O calor daqui é o frio. O sol daqui é a garoa. As necessidades daqui são imposições. O branco daqui é branco para espantar o cinza do ar que respiro, dos prédios que do meu olhar miro, e do asfalto que daqui de cima me atiro.

domingo, 27 de junho de 2010

A vida lá fora

Uma música toca. Não sei o tom, não sei a nota. Dia fervoroso que se abre. Conclusões que mal se encerram. Na janela quase morta se vê um mundo sem graça, como se não houvesse correria. Uma omissão perigosa. Se joga pela frente e abre o paraquedas. A queda não é tão alta, dá até pra ver a formiga levar a folha da labuta.

Pessoas falando de amor como falam mal dos outros num programa de fofocas. O tratam como uma jabulani mal tratada em dia de copa. Sempre polêmico, o amor é efusivo. Tanto na sua presença, quanto na sua ausência. É viver. Ame algo como ama a sua insapiência, sua ignorância adequada para um retrocesso dúbio. A minha complexidade simples é amada por mim e por outras razões de um final de semana atípico.

Quando pousa na rua, sinta-se como um gringo em dia de folia ou numa cremação de um parente próximo. Pode parecer ofensivo do modo de que é feita esta proposta, mas constate o poder avassalador que o mundo lá fora pode lhe fazer experienciar. Surpresas de um florista da esquina ou do pivete da cola de sapateiro, ou mesmo os buracos em que cai na pedra portuguesa lhe traz raiva momentânea, talvez risada pela sua patetice. Vá pela calçada e atropele pelos cantos das ruas. Sinta o prazer de ser notado por carros concentrados em seus trajetos, force uma buzinada ou um farolete de alerta. Queres morrer? Queres atenção? Queres testar um desconhecido?

Pegue o metrô da superfície e sinta graça nisso, se irrite por isso. Desça na estação e ande 1 quilômetro até entrar no vagão onde um imitador de Michael Jackson pode fazer você esquecer do seu destino final. Se incomode com o braço levantado de um trabalhador operário sem os devidos cuidados higiênicos. Saia do metrô e encontre um cenário totalmente diferente do que encontrou quando entrara na estação. O florista virou o choffer, o pivete tornou-se um corredor executivo de final de semana.

Pegue o caminho de volta, pule a roleta da passagem, dê um tapinha na bunda do florista e dê uma nota falsa que encontrou em um pacote de salgadinhos ao pivete. Ria e fuja com a adrenalina do medo prazeroso. Entre em casa e jogue a chave fora. Olhe para fora da janela e encontre um outro jeito mais louco de chorar sua mesmice.

As pessoas continuarão a falar de amor, mas é você que realmente estará amando as pessoas do jeito mais nonsense que poderá desconfiar, sem necessariamente saber o tom, a nota. Você acaba de descobrir que a música é feita de harmonia. A vida lá fora também. E ninguém nota.

O Muro

Num balanço do coração jogo todas as peripécias acima, não tenho certeza se está frio. Perdemos a prisão de outrora, mas ganhamos a liberdade do saber querer. Do saber fazer os caminhos travessos, dos entreolhares que me forçam o sorriso maroto, todo o sentimento de um garoto que se esconde atrás de barba, bigode e um olho inocente. Não temo tudo o que sente, temo a verdade atrás dos muros, das degradações que tiro o proveito, na construção do que eu não sei dizer.

Rompi a marcha ré, maltratei toda fé que me fazia mal. Não sei o que é bom e ruim, sei onde fica o chão onde sapateio os devaneios do dia-a-dia. Temos os bueiros dos meus lampejos, as máscaras onde guardo os meus desejos, a dança onde espanco a minha libido. Tirei os gatos em cima do muro, coloquei os uivos blasfemados no meio da noite, ergui a lua como um ponto de clareza de toda incerteza que me faz feliz.

Se eu tivesse uma cama da felicidade, faria dela uma só unidade entre mim e suas pernas, colocaria todo o seu vestido ardente nas paredes, jogaria fora todo aquele catete que fazia você chorar. Fecharia seus olhos só com um gemido, tomaria todas as suas mãos como se tivesse com a mente tonta, todos os bons distúrbios que me dou conta só para te ver desnortear.

Os gatos dos muros andam sozinhos, repousam sem saber o por quê, compõem a cena do prazer. Sem saber o por quê. Acho que as notas foram demais tocadas, as saudades foram demais ignoradas e não sei com que braço eu arreio a mão. Me explica como eu vou sair, pois não sei com que olhos inocentes tomo as suas crenças, do dia em que olhei pro meu coração.

Tiro quase toda fúria, aplico um bocado de fadiga, choro a minha felicidade de ser, em toda perdição eu me achar sem querer. Nos teus olhos brinco de mal me quer, me faz desprender do copo e da colher que misturo, toda essa excitação de um tempo em que coloquei todo o seu escopo no meu coração cambaleado pelas suas peripécias, travessuras e ternuras do seu eu encostado em um muro lotado de esconderijos mal lapidados. Eu desenho uma obra mais bela, mas mais vacilante que a sua pedra passional. O meu prazer colossal, atemporal.

domingo, 20 de junho de 2010

Soco em ponta de lança

Nas cordas comunistas que S.M. tratava de atravessar entre uma página e outra, somado ao seu ímpeto rancoroso deslanchado com o fato de que seu pai não podia atravessar entre página alguma não modificou seu olhar reflexivo sobre as peculiaridades sociais do mundo em que viveu. Não basta ter uma mente brilhante, quando se a tem, uma particularidade se aflora: a contaminação de uma ideia. Um ideal.

É uma tentativa um pouco à la Nelson Mandela de socar ponta de lança. Da revolução viril de um adolescente ensandecido por mudanças em ritmos mundiais. Sua arma é a que eu uso e a que você é atingido agora: estas palavras. Mas como toda rajada de metralhadora nem todos os tiros atingem o alvo, a minha explanação pode atingir o céu, por mais sublime que este lugar possa associar-se, o céu é um mar do nada.

S.M. tinha o controle da palavra como se ela fosse um bumerangue. Jogava de forma sucinta, com frases e diálogos transando o ar e as páginas como se fosse uma lança obediente, levando o apreciador até o fim do livro, para então fechar e voltar à capa com uma outra sensação. A de ter experienciado um pequeno frescor na mente depois de tanto vento sem direção.

Por mais que sua falastronice fosse tradicionalista icônica, não deixava de causar o mal estar nas cabeças pensantes do talvez falso way of life contemporâneo. Um incômodo bem intencionado onde os fados são escritos sem som, sem imagem. Apenas escritos.

Os escritos alertavam para a cegueira definitiva/momentânea de cada ser pensante tocado por sua metralhadora datilografada. Como todo bom guerrilheiro, S.M. tinha o amor e no ideal e a fúria nos dedos.

S.M. fechou os olhos, mas abriu o meu.

S.M. é José de Sousa Saramago.

"They who have put out the people's eyes, reproach them of their blindness." (John Milton, 1642)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Nojo

Bueiros que não lhe tiram a atenção em teus devaneios fantasiosos no cotidiano me pertencem. Não me escondo lá. Eu venho de lá. Escrementos que passam por mim são apenas o meu adubo, a lava do meu sangue enriquecido da vossa rejeição, não ligo. Engulo com gosto. Hm. Hmm. Eu beijo na boca de ratos infectados pelo obscuro. Morcegos sem asas outro dia vomitaram uma gosma verde. Maldito alface podre. McDonald's não faz como antigamente.

A camisinha estarrecida de nojo branco entupia a garganta das baratas atônitas. Um ótimo souvenir da descarga do prazer inverso. Quanto maior a obra de arte mastigável, maior obra de arte defecável. Como podemos ligar a merda que sai.. Que sai da boca de algumas pessoas. Você me odeia. Porque eu sou o seu pior espectro: O seu interior podre. Você se odeia, sua merdinha perfumada!

Hoje achei uma cabeça de porco decepada, a fiz de capacete para servir judeus, árabes e vegetarianos da etiópia. Nada que o bom gosto não faça questão de cuspir, arrotar ou peidar na cara da hipocrisia. Na sua cara. Com cheiro de flores do campo, do campo de concentração a -15°C. Filhos da puta emputecem precocemente. É o que a cria aprende de produtivo com sua guia sórdida e hereditária.

Está no DNA. Não pode mudar o destino de um verme no estômago quando ele já está lá. É uma lavagem cerebral, mas que acontece no seu âmago. A saga da felicidade se esconde por trás de muita ambição putrefata e falsidade bio/ideológica. O medo que carrega é a adrenalina de uma enchente de leptospirose causada por tanta merda que você põe pra fora do seu corpo ilustrosamente fétido.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Carta à luz de vela


Rio de Janeiro, 07 de junho de 2010.

Escrevo sem luz. Apenas à luz de uma vela, antes decorativa, agora à minha serventia. Meus dedos meio relapsos quanto ao frio não esquecem de se movimentar diante tantas teclas negras, sedentas por emoções à meia luz. Noites assim. Noites que me distanciam de alguma coisa e me aproximam de ti, não sei ao exato saber. Faço ideia que possa ser um coração quente a procurar outro tão quente quanto ele próprio.

Quando esteve em minhas mãos naquele dia chuvoso não imaginei que o frio ainda estava por se manifestar desta forma. Hoje não tive minhas luvas de paixão. Não tive como agarrar-te sinceramente. Não entrastes em meu casaco negro, nem com as mãos, nem com os olhos. O único fogo em que senti foi de tua presença, teu olhar esquentando o meu.

Passastes pela porta, não te vi. Notei algo gostoso no ar. Não era teu perfume. Proclamaram teu nome composto. Não sabia que o ar tinha fragrância de tua presença, de intuição. Fizera das janelas um jogo de curiosidade. Esquerda ou direita, não importava. O quintal estava mais quente naquele momento. Não tinha chuva, não precisava. Não fora convidada. Tu foste. Intuitivamente. Gratuitamente.

Senti tua falta de como nunca tivesse sentido. Não veio forte. Veio de um modo interessante: sutil. A sutileza que se percebe nas coisas é como deitar contigo debaixo dos cobertores e trocar teu nome por Rosa sem espinhos. O jardim estava mais quente naquele momento. Beijaste o Girassol como se acalmasse o sol do inverno sem preocupação em se queimar. Não tinha interferência, não precisava. Não fora convidada. Tu foste. Calmamente. Furtivamente.

Não aconteceu nada demais. Mas eras o demais daquele momento. Pequeno momento de troca de palavras, olhares e uma despedida sem ida. O escuro em que me encontro não me lembra dos nossos tempos ruins. Não tivemos tempos ruins. Nosso conhecimento mútuo que era de se fazer esquecer.

Quero te ter por momentos. Pois lembro em que experenciava coisas extasiantes em alguns momentos da minha vida que foram únicos, fora de si. Os nossos momentos são fora de si. Uma experiência que não se tem a todo momento, mas que a todo momento se tem uma nova experiência. O roteiro pode se repitir, mas com palavras deliciosamente escritas diferentemente das anteriores, vicio no teu livro. Curioso fico para saber da página seguinte. Mas não viro mais a página antes de ler até o ponto final.

Não és perfeita. Tampouco sou. Nesta escuridão à meia-luz de uma vela decorativa somos alguma coisa mais intrigante que a página que acabei de virar.

Apago a vela, mas a chama continua acesa.

sábado, 5 de junho de 2010

Ruptura


Correndo de você eu tropeço em minha saia. Saia branca longa e rodada que envolve o teu peito. Enrolando-se em você toda como se grudasse na sua pele. Eu tropeço em você. Piso nos teus pés, cuspo na tua boca, choro nos teus olhos. Corro com as duas mãos puxando a saia. Pesada. Molhada da tempestade que descarregou de repente.

Estapeio-te a cara querendo esquentar a sua distância. Enrouqueço gritando o teu nome com raiva. Sem raiva. Escuto a tua risada malévola na chuva e vejo os teus olhos negros puxando-me para trás. Para trás. Não sei mais diferenciar o que é lágrima e o que veio de cima. De você.

Não sei mais dizer o que é teu e o que é meu. Te reconheço na minha risada e nos meus gestos. Acaricio o meu cabelo, pensando que faço cafuné em você. Entrelaço-me os próprios dedos, querendo sentir apenas uma das mãos e não as duas. Esqueço-me em você. Ou será voce que se esqueceu em mim?

Eu continuo correndo e caindo no meu desespero. Minha saia virou uma extensão de uma lama podre. Uma noiva da pântano. Uma noiva das selvagerias e das incompreensões. Uma noiva sem palavras, sem rimas nem prosas. Uma noiva sem marcha nupcial. Agora eu já corro por não ter sido impedida. Não te sinto me seguir, não te vejo puxar minhas mãos, não escuto os seus gritos. Não está mais enrolado pelo peito à minha saia.

Já corro por não ter motivo de parar. Correr parece fazer mais sentido. Talvez você esbarre comigo no caminho. Talvez eu desmaie nos teus braços e fique com alguns arranhões no rosto. Talvez você chore dizendo que me ama que me ama que me ama. Talvez você me chame de louca. Talvez você diga que tem medo medo de mim. Talvez você rasgue o meu vestido e me deixe nua. Nua.

Nua de meus pesados sonhos quebrados. Nua de meus desejos escorridos. Nua de minha vazia utopia. Nua da brancura dos contos de fada. Suja como uma criança que brincou a tarde inteira. Exausta como uma mulher. Talvez a sua tempestade lave os meus medos e meus ceticismos. Talvez você consiga arrancar-me de minha tremedeira ridícula.

Talvez você consiga marcar-me com os seus dedos e desenhar na minha coxa, a fantasia de borboletas no estômago e sereno no final da tarde.

Sereno.

Avassalador

Chuva de granizo. O frio já guia a alma pra lástima de dor. Conheça-te. Tuas dores são efêmeras. Sacuda e fuja. Sossegue e apareça. Volte à ser criança. As repressões póstumas significarão inveja adquirida. E mesmo que não fossem, o granizo incomoda. Nada como ter uma gota d'água cristalizada abaixo de zero que rouba a atenção de pensamentos alheios em queda abissal rumo a algum lugar que chamam de precipício do velho jeito de agir.

Não é baboseira. É a simplicidade complexada. As definições por meio das palavras são como o tempo. Um dia ensolarado pode conter raios endiabrados escondidos no início da tarde. O algodão doce branco torna ao cinza, à furia negra e grita trovões. Assim como uma noite entre amigos pode acabar em chuva de tristeza.

Eu sou a tempestade. Sou o vento que te golpeia com sinceridade. Misericórdia é mero apelo. Me aprecie pela minha força, minha surpresa. Sou um símbolo da austeridade natural. Não sou artificial. Não penso, apenas aconteço. Posso vir calmamente para acalentar relacionamentos em sintonia. Sou o furacão.

Devasto casas, arraso quarteirões e arremesso minha fúria de saia branca rodada por quilômetros a fio. Sou o peão da morte, sou muita coisa e você coisa alguma. Se um dia sonhou em ser dominada pelo destino, este semeia minha alcunha. Regulo os medos, desmitifico os castelos encantados, dou nó nos teus cabelos úmidos do meu sereno e brinco seriamente de pique-pega.

Sopro tua alma com robustez e vitalidade. Apesar da potência, não esqueço de arrepiar tua pele nua em pelo. Borboletas no estômago? Não há de quê. Bato as asas da falta de calor. Asas que perambulam pelos lugares até descobrires que és o quente e eu.. o frio.

Não importa o que aconteça. Corra! Eu vou te pegar.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Escrever


Eu acordo com vontade de dormir. Eu escrevo com vontade de ver um filme. Passividade. Recepção. É mais fácil, mais tranquila. Como beber alcool. Ficamos embriagados, tontos demais para agirmos de acordo. Agirmos pensantes. Preferimos nos entregar às nossas cambaleantes loucuras e estridentes palavras. Gritadas.

Quem escreve quer aparecer.

Não é fácil. Não é gostoso. Fazer sentido ou desfazer os meus sentidos, me dói. Dilaceram-me com a leveza que poderiam ter como pequenas letrinhas pontiagudas. Escrever dói. Libertar-se dos ódios, amores e das faltas. Das insensibilidades. Gosto de lançá-las no papel, na tela de um computador. Como uma bola cheia de tinta que se espatifa numa tela branca. Espatifa.

Escrever é como viver tudo de novo. Todas as lembranças voltam, martirizam, detonam. Todas as alegrias ecoam e junto com elas mancham-se os esquecimentos propositais. A memória é essencial para todo escritor. Para fazê-lo escrever, fazê-lo existir, aparecer. Mas também para matá-lo.

A memória mata o escritor.

Seria melhor se eu me dedicasse aos sofás. Às viradas de páginas que não me pertencem. Que não me são. Ler-se é dolorido demais. É a vida por duas vezes visitada. É a morte por duas vezes. Mas eu prefiro esquartejar-me a cada texto, a cada conto, a cada poesia. Prefiro espirrar-me colorindo os cantos de salas e quartos.

Quem escreve quer aparecer.

Quer ser notado. Quer sujar e limpar todas as dúvidas e certezas do mundo. Quer rir-se de si mesmo e de todos os outros. Que chorar todas as lamúrias da humanidade. Quer destruir toda a realidade para criá-la em uma frase. Escrever é a minha maldição. É o que me persegue ao dormir e me sussurra obcenidades quando acordo. Tenho vontade de dormir quando acordo. Tenho vontade de fugir de mim mesma, porque estatelar-me em versos e prosas é a minha paixão. Paixão.

Fujo do meu próprio gozo, pois sei que não sou capaz de suportá-lo.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Negação

É tão difícil assim? Queria poder não falar de sentimentos. Nem tudo que falamos são de sentimentos. Será que sentimos o tempo todo? Droga. Acabo de sentir uma dúvida, uma inquietação. Ponto e vírgula, faz favor;

Quero falar do momento em que abri a janela da varanda e encostei-me na porta de vidro com bordas de alumínio para descobrir a garoa que estava enfeitando a noite. No asfalto, no morro, nas casas de alvenaria, nas coberturas socio-amigáveis. Bisbilhotei a vizinha do prédio caçula da frente espreguiçando, pelo vício da tela do computador. Luz acesa, vejo tudo, energia desperdiçada, não para mim.

O barro enxarcado pelas chuvas de abril apodrece em meio da vila. Uma vila onde tudo acontece. Uma vila onde uma senhora bem idosa escala os seus duzentos lances de escadas em uma velocidade alucinantemente penosa, com sua namorada, a fiel bengala preta. A garoa sai à francesa, deixa a poça refletir o ponto de luz do respeitoso poste.

Nem tudo é pacato. Sirenes desesperadas lembram de onde estamos. Ecoam perenes diante os prédios que fazem o corredor do desespero. - Não falo do meu coração. Não quero falar dele. - Elas também saem à francesa. Milagrosamente o desespero cessou. Só vejo ônibus com dezenas pessoas loucas. Loucas para findar em suas residências. Loucas para esquecer o primeiro dia de trabalho/estudo da semana. Será que os que possuem sanidade andam de carro?

Por um momento ouço o silêncio. Vejo as luzes da favela ao longe piscarem como se fosse natal. Como se houvesse uma comunicação à la código morse. Pura ilusão. - Não falo do meu coração. Não quero falar dele. - De ótica. Meus olhos nem sempre vêem o que é pra ser visto. Talvez ele não queira ver o mendigo em posição escatológica. Meus olhos estão blindados. - Não falo do me...

A temperatura do vento que bate lembra o ar-condicionado do verão. Faz as árvores iluminadas parecerem as únicas almas vivas que resistem à hora, ao tempo, no tempo delas, na beleza delas. Mania de prédios cultivarem as palmeiras. Cadê a mangueira? Elas dão frutos. Sinto falta agora dos morcegos. Meus companheiros das noites de olheiras.

Os ônibus também saíram à francesa. Pessoas perambulam no meio da faixa de mão dupla. - Não falo do meu coração. Não quero falar dele. - Os sons dos carros relaxam, o cristo redentor ao fundo usa cobertor branco e o pão de açúcar parece adormecido. A paisagem ficou estática e posso pegar o pincel amarelo a vontade. Se eu falar mais do que isto parecerei triste e sozinho.

- Não falo do meu coração. Não quero falar dele. -

domingo, 23 de maio de 2010

Femme Fatale



Marcas no chão. Eram aqueles vestígios de estupidez novata. Não tinha cor, não tinha cheiro. Tinha intenção de deixar toda a sua ira estampada na ponta da faca, na ponta dos dedos. Suas pernas eram vias e eu era o laço. Minha pata sentava sobre suas costas, macias. Sua falsa sensação de segurança era mais prazerosa do que a minha lambida áspera em dia de garganta seca. Meus olhos são as únicas lembranças da beleza pura. Meu ímpeto é para saltar o susto da sua alma. Deixar seu corpo nú de reações contrárias. Eu sou o contrário. Te viro de ponta-cabeça, enforco teu pescoço com a maciez do meu rabo e ainda apareço diante dos teus olhos e mostro quem tu és. Eu sou teu espelho.

Dentro de mágoas derretidas, todo o desgosto saturado de miudez, toda falta de amor próprio serão fervidas em um tacho de repulsa. Expurga esse mal delicioso da sua carne vermelha. Alimente-me. Sou um morcego andante. O ar que sopro no seu ouvido é o vento da depreciação deflagrada. É a fome de devorar tua carne fraca, porém dos deuses. Sem letras maiúsculas. Já basta a minha ação viril que usurfrui teus restos e destitui teus versos.

São três passos para o cortejo do horror. O prazer de devorar e o prazer de ser devorada se misturam. Teu suor tonaliza vermelho e escorre com o louvor da seiva da selva. Tua carne desmancha na minha boca afiada como polpa de fruta gelada. Depois do ritual do prazer hedônico, sobra tempo para ter saudades do ventre, do colo, da nuca, e de tudo aquilo que um dia foi você. Meu único desejo agora é que você tenha mais 6 vidas.

Miau.

Ariscos


Hoje teus olhos vibram
vibram com a luz dos meus
Teus lábios se molham
com as suas palavras
As suas mãos quentes
me insultam, me invadem

Hoje você é meu
meu pequeno animal selvagem
domesticado
Meu grande gato preto
que se enrola nas minhas pernas
e me desequilibra
Derruba-me

Hoje eu sou chão
estatelado e espalhado
Eu sou uma entrega
mercadoria minha à seu domicílio
Tola como as crianças
crianças rindo das suas frases bem arrumadas

Amanhã
Amanhã você ainda estará aqui?
Seus olhos vibrariam com a luz
refletida dos meus cabelos?
Suas palavras iriam beijar
me beijar como um atrevimento?
Suas mãos ainda estariam quentes
do seu ilimitado convencimento?

Você ainda vai me amar amanhã?

Você me amaria amanhã
Deixaria o meu cabelo espalhado
espalhado no chão coroando-me
Como uma pequena princesa
eu esperaria
esperaria
esperaria o seu tapa
a sua solidez
e a sua violência

Você ainda vai me amar amanhã.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Mordi a minha própria isca

Eu já deveria imaginar. Mas a minha bondade soou patife. A música que meu crânio guarda é da mesma força do meu pecado. Daquele dia. O dia que o sol raiou só para dizer que o frio da noite vai chegar. Estava no ônibus, tudo fechado. Tinha ar-condicionado. Descia pelos buracos obscuros em cima do meu crânio. O ar era gélido, a luz era amarela e a sensação era contraditória. Era só uma caixa andante e eu, um conduzido inerte. Como não pudesse trocar passadas longas, em vez de desrespeitar com os olhos a paisagem passante (inerte).

Eu já deveria agir. Mas a minha confusão itinerou os valores. Não era mais uma fórmula simples de se resolver, nem aquela que te fazia crer do correto. Não era mais uma fórmula. Era a pura e não-metódica forma de se entregar sem fazer sermão. Jogando a bola no ar, olhe pro chão, pra frente e pra bola. Mate-a com o pé. Suba com os dois pés e a faça oval. Moldar o indevido. Só não reclamar da falta de aviso prévio.

Eu já deveria falar. Mas a saliva secava quando você chegava perto. Sua imponência despia as frases guardadas. O beijo já saía seco. O hálito já não tinha mais o frescor de eucalipto da serra da mantiqueira. Engolia seco a minha condição pseudo-mandatária. Tinha em minha boca a senha do banco da verdade. Mas a chave emperrou. Pigarro. Um maldito pigarro.

Eu já deveria ouvir. Mas meus olhos ensurdeceram abertos. Piscantes para ver melhor. O sentido não ouvia, só assimilava. Os sons eram filtrados para ouvir a beleza. A realidade era enganada. Não ouvia seus passos, mas a música que emanava de seu olhar único. Ensandecido dia em que fechei os olhos e ouvi a realidade. Não era mais um bem-te-vi sendo imitado por crianças soltando pipa. Era uma ave de rapina jogando o vento mortal de suas asas no cangote da minha insolência. Fui minha própria isca.

Desde então eu devo falar e agir, sem deixar de imaginar o que tem pra me dizer.

Agora eu falo e ajo. Esqueço a insipiência, mas não esqueço de imaginar o som da realidade.

Eu volto

Talvez eu volte. Talvez eu comece a correr com as mãos nos bolsos. Pode ser que eu vá andando. A música me acopanharia. Calma. Eu soltaria meus pulsos das cordas dos violões e deixaria minha voz vagar solta. Como um aviso. Espera. Espere que os meus cabelos te enrolem o pescoço. Espere. Aguarde.

Eu andaria - ou correria - durante todos os dias. Não pararia. Não seria capaz de interromper. Se meus pés deixassem de socar o chão eu poderia despencar. Poderia correr na outra direção. Poderia voltar para onde estava. Um minuto de pensamentos poderiam me corroer. Eu poderia enrolar-me nas cordas de novo. Poderia ficar muda outra vez. A música da minha respiração seria leve. Quase inaudível. E eu queria a voz. Queria dizer o não cantado. Queria cantar o inaceitável.

Sim, eu estou voltando. Talvez esteja. Pode ser que eu esteja caminhando. O sono me acordaria. Com seu silêncio de cigarras, me confundiria com os sons que eu desejaria ouvir. Como pequenos trechos do futuro, me viriam imagens dos meus sonhos que eu não estava sonhando. Os sonhos chegavam sem mim. Andavam sozinhos, vagando pelas estradas. Eu tentava capturá-los. Minhas unhas os incomodava, mas eles seguiam batendo-se e misturando-se. Comigo.

Espere. Acredite se quiser. Acredite que eu enviei meus sons para convidá-lo a me encontrar. Siga-me. Siga meus fantasmas. Beije os meus rastros. Acalme o meu sono que não se cala. Deixe-me deitar em teu colo e dormir. Eu voltei. Como não havia dito que faria. Manda essa vadia sair do meu lugar. Meu amor. Eu avisei que não voltaria.

Mas eu não deixei de puxar as cordas. Eu não deixei de te enrolar nos meus cabelos. Embalei como um bebe que chega sem aviso. Você deveria imaginar. O que eu digo não importa a não ser que você consiga ler o meu contrário.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Se vá

Se vá. Mas volte se achar pertinente. Se vá. Me beije de lamúria se achar que mereço. Puxe meu cabelo e causa-me dor. Arranhe sua voz no meu ouvido e me obrigue a dizer coisas que não quer ouvir. Não é de se esperar que apague a vela em minhas costas. É de se esperar que a apague ao cair de minhas lágrimas berradas. Me isola num quarto à meia luz. Use o cimento do meu joelho para barbarizar meus anseios. Seja a sonâmbula que sempre quis. Tire a saliva da minha boca com o olhar. Pecaminize. Tire a minha roupa e deixe-me ressonar o frio. Tire sua blusa pra mostrar que o seu seio é mais pretuberante que o meu peito, duro, cheio de músculos impotentes. Não me deixe ter tesão um só momento. Me exorcize. Deixa martelar meu cérebro em raios e redemoinhos. Quero sentir o som do violino transformar-se em ruídos de unhas endiabradas em um prato de vidro áspero. Amarre minhas mãos na perna da mesa. Suba nas minhas costas de salto alto e dance o tango da verdade. Use suas mãos de veludo para torturar meu rosto com um falso-molde. De pena. Ria da minha cara e chore para eu confundir nossas dores. Me mostre fotos faladas. Simule vídeos não filmados. Me ignore e me troque pelo cigarro. Não esqueças da fumaça na fuça da minha desgraça. Masturbe sua lamentação na minha cara e termine com um tapa que não doeria em um bebê, mas que estraçalha a alma de um infeliz. Pinte o chão de vermelho para simular o passado. Num ato de fúria, arremesse o preto no meu corpo. Mostre-me quem é o réu da inquisição. Ligue o ar-condicionado. Me deixe arder com falta de calor. Pegue seu ventilador de mão e vá suavemente dos pés até o meu peito. Deixe meu pulmão clamar pelo tremor de meus músculos. Deixe minha pele em alerta máximo. Me deixe deitado e olhando pro falso horizonte do passado. Deslique o ar-condicionado na tomada. Feche a porta delicadamente para eu ter dúvidas quanto a tua presença. Se vá. Mas volte se achar pertinente.

sábado, 8 de maio de 2010

Descolorir

Tudo se descolore.

Aquilo que eu digo se apaga. O que eu imagino se dissolve. O que eu crio se desfaz.
Todas as minhas fantasias, todos os meus absurdos têm limite de vida. Têm seu prazo determinado para desaparecer.

Se tudo que é deixa de ser, então para que importar-se? Para que gastar aquelas horas com alguém ou alguéns? Porque ler as minhas próprias palavras, porque dar-me o trabalho de combiná-las co outras? Porque gastar-me com pedaços que serão descompassados e esquecidos?

Não é para te agradar. Pouco me importa seus gostos. Prefiro tomar parte dos desgostos. Conte-me todos. Elucide-me com a sua porcaria. Derrame o seu desprezo. Preencha-me de todos as suas ingnoradas partes de vida. Deixa-me transformá-las em paixões ligeiras. Deixe-me transformar as suas não-vidas e seus não-amores em pequenos momentos de luz. De escuridão.

Eu não o faço para você. Não o crio ou descrio para você. Eu gosto de explorar. Gosto de dizer o não dito, fazer o não feito, desejar o não desejado. Gosto. É um fetiche meu. Deixe-me aqui sozinha arranhando as teclas desse computador. Abandone-me. Esqueça-me como esquece as minhas palavras.

E talvez, então, eu deixe de ser obrigada a ter propósito. Talvez eu deixe de ser obrigada a ter um futuro ou uma motivação. Talvez, se me esqueceres, eu passe a ser apenas um lapejo de paixão. Que acabará. Apagará.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Descompasso

oi. Dei uma cabeçada nas teclas pretas marcadas em branco, tão resistentes. De tão resistentes só saíram duas letras: o i. Derrepente uma cabeçada dura no seu livro recheado de personagens efêmeros e tão desiguais faça você realizar-se de coisas mais simples que o passado de um minuto ou mesmo a patifaria do cão lambuzento, ingênuo. Inclusive da voz temerária do Tente Mais Tarde.

Tente mais tarde, este povo se atrasa, não responde, se esconde. Faz parte do show. É uma brincadeira ritualística-comportamental de pique-se-esconde. Sou feliz mas não sou tanto. Apareço com muito tesão, mas me esquivo com tamanha eficácia. É o homem cordial do Sérginho Buarque. Não temos, na maioria das vezes, a disciplina do que foi prometido. Mas temos a cordialidade de ajustar as coisas à uma moda caseira, negociando satisfações.

Estou compromissado com a minha sina. Pequenos detalhes se apagam com facilidade. Ai daqueles que deixam os detalhes no quadro negro. Nele rabisco apenas meus rabichos de tristeza que se transformam automaticamente em desenhos de palitos no quadro branco. Esse sim. Preto no branco.

A menina que passava correndo com o cão brindava seus personagens com sutileza de vida. O livro transpirava de nervoso. Ele não estava contando a história do cão lambão. Mas você estava. Desligue a televisão e vá ler um livro. Fecha o livro e corra pra lá e pra cá sem sentido. Porque as nossas vidas já têm muitos sentidos pra a gente se preocupar.

O descompasso do coração é uma santa improvisão. Uma arritimia vermelha. Intensa. Porém sutil. Não sente seu coração bater agora? Tem que ter a sutileza de colocar a mão no peito, de discar para o hedonismo, ver o não-ostracismo pra ver a própria sutileza de como a vida passa diante do minuto em que ele esteve lá e você não viu? Naquele exato horário que você marcou?

Marque agora quantas batidas por minuto o seu coração tem. O legal é saber que no intervalo de dois minutos, ele variou a batida. Deixe o celular tocar, deixe ele atender. Ouça o coração do telefone. Tu-tu-tu-tu. Vai ver ele seja adequado para você: pragmática de merda.

Reflexões sobre cachorros

Então adianta?

É verdade que podemos mudar as coisas de acordo com o que desejamos? Seria bom. Seria bom se todos atendessem o telefone quando eu ligasse. Seria maravilhoso nunca mais ouvir aquela mulher dizendo que o número encontra-se fora da área ou desligado. Seria muito bom se todo mundo chegasse no lugar determinado na hora exata combinada. Se combinamos 6h12 então que seja 6h12 e não 6h13, pois eu sempre estou ali na hora certa.

Eu fui percebendo que afinal, nem tudo vai de acordo com o combinado. Nem de acordo com o imaginado.

Um dia eu estava andando pelo meu condomínio e uma menina passou correndo e atrás dela vinha um cachorro imenso. Meio dourado. Prateado. Não sei bem definir a cor, só sei que era linda. Eu fiquei ali olhando aquela cena digna de comerciais d Pedigree. Eu esperava por alguém que não aparecera na hora. Estava ali, me divertindo, sonhando com um cachorro bicolor. Cintilante.

Por muitas vezes eu passei ao lado dessa menina e o seu gigante. Sempre olhando com uma certa curiosidade incrédula. Como ela estava sempre feliz. Como sempre tinha energia para correr atrás, na frente. Em volta. E eu ali, lendo livros sentada numa mesa com cadeiras brancas. Um pé em cada uma. A saia jogada cuidadosamente para não mostrar mais do que o devido.

Todos se atrasavam. Todos esqueciam de me ligar de volta. Todos deixavam-me na companhia dos meus personagens de livro e meus personagens reais.

O cachorro nunca se atrasava. Ele estava sempre ali, babando no lugar e na hora certa. Corria na direção e na velocidade esperada. E eu continuava lendo. Continuava ouvindo músicas e vendo velhinhas andando devagar para passar o tempo. O cachorro deixaria de aparecer um dia? Ele também poderia me decepcionar? Ele deixaria de atender a minha ligação?

Foda-se. Não me importa. Aliás, pouco me importa. Que a menina corra e ria seu riso canino. Que ela fale a língua dos cães dourado-prateados. Falo as minhas línguas e escuto 'nãos' em todas elas. Não queria ser um comercial de Pedigree, de qualquer forma.

O meu sonho sempre foi um labrador correndo na minha direção com a língua de fora. Balançando bastante. Quase um pêndulo errado. Desconcertado. Eu iria puxa-lo pelo pescoço e deixá-lo mordiscar minha mão. Mas eu não iria correr atrás dele. Eu não iria deixá-lo correr atrás dos meus calcanhares. Ele nunca estaria na hora certa e lugar nenhum.

Estaria comigo em todos os lugares, para que me ajudasse a esperar a menina e seu gigante sorrindo seus risos eternos.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Adianta



Trabalho o meu peito. Vinte e dois quilos de desgaste com dois pontos de desgosto.. Me regenero como criança na inexperiência do não vivido. Perguntei as regras e ouvi os olhos. O castelo encantado estava endiabrado, com rodeios. Sem me tocar, já o tendo tocado, cristalizei um diamante encravado, cismado da mudança. Um pé atrás quase alcança.

Dancei na hora de dormir, sem cochilar me atrapalhei. Eu pensei, .Pen Sei. Canivetes eram os pensamentos, o chão era o meu peito, minha alma, minha cabeça e minha dor. O alvo perfeito para textos melancólicos, tortos de emoção e clamando pela razão. A química corroeu. Aos poucos.

Fica sem morte. Grande sorte, irônica. Os quilos que coloquei a mais sobrecarregaram o meu intelecto. Levei uma rasteira do destino, aquelas de segurar o chão e saber até onde o firmamento sacaneia o desejo. Um lampejo de olhos finalmente abertos. Um jogo da vida me jogava pra escanteio. Cerveja com cevada e sem centeio. Amargada. Amargurada.

A moeda do cara-e-coroa foi petelecada. Ela dança no ar feito o meu passado recente. Gira, tonteia, acerta o falso-cume e despenca desnorteada. Se você tiver a sorte, pode pegá-la com a mão. Suspense. Angústia. Esperança. Não ganhei. Mas era a cara da coroa que me intrigava. Era pálida, metálica, indiferente e com aquele mesmo ângulo de quarenta e cinco graus de cru-eldade. Era uma moeda. Aliás, poderia ter sido.

A vacina foi tomada, o braço dói de fraqueza. Tudo da franqueza. Se segura, malandro. Pra acertar a cabeça do Kennedy tem hora. Desce nas escadas, cruza minha mira, desce e me estapa, atinge minha veia, atinge e me fala bobeira, meu superego ganha um mapa. Como dois e dois são cinco, era só tirar a limpo. Ergue a postura, reaprende a galantear o beija-flor, não seja ator da peça, afinete seu sonho, mas costure a realidade.

Agora já não adianta, meu bem. Mas pro meu bem adianta.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Superfície


Você podia correr.
Sair daqui do meu lado, parar de resgumungar, de murmurar. Parar de puxar os seus dedos e estalar os meus. Simplesmente se cale de toda a sua tristeza.

Eu tentei te escutar, tentei te entender e quis te explicar. Mas você só quis continuar o seu diálogo de umbigo. E eu, não tenho paciência. Agonia essa sua quietude. Chore um pouco. Mexa-se. Dê-me alguns tapas de raiva. Mas pare de concordar sem escutar-me. Não quero sua concordância. O que eu digo não é aceitável! Se fosse, eu não diria.

Suas superficialidades me irritam. Deixe de anunciá-las para o mundo. Cale-se de palavras rasas. Silencie-se de todo o seu drama bem calculado. Escreva sem contar as letras ou reler os parágrafos. Não expresse aquilo que não tem profundidade. Não exponha aquilo que não é real. Não te entendo. É difícil compreender personagens mal construídos. Você esqueceu de alguns detalhes e eu analisei todos.

Ah, como eu queria te furar com as minhas unhas. Como eu queria ver o teu sangue exposto como córrego de intensidade. Queria me cortar com seus papéis espalhados pelo chão. Queria escorregar nos bilhetes em que escrevera "Volto logo". Relaxe o teu sorriso congelado. Retire a sua calma transparente. Apague a sua dor fantasiada.

Cansa-me.