segunda-feira, 7 de junho de 2010

Carta à luz de vela


Rio de Janeiro, 07 de junho de 2010.

Escrevo sem luz. Apenas à luz de uma vela, antes decorativa, agora à minha serventia. Meus dedos meio relapsos quanto ao frio não esquecem de se movimentar diante tantas teclas negras, sedentas por emoções à meia luz. Noites assim. Noites que me distanciam de alguma coisa e me aproximam de ti, não sei ao exato saber. Faço ideia que possa ser um coração quente a procurar outro tão quente quanto ele próprio.

Quando esteve em minhas mãos naquele dia chuvoso não imaginei que o frio ainda estava por se manifestar desta forma. Hoje não tive minhas luvas de paixão. Não tive como agarrar-te sinceramente. Não entrastes em meu casaco negro, nem com as mãos, nem com os olhos. O único fogo em que senti foi de tua presença, teu olhar esquentando o meu.

Passastes pela porta, não te vi. Notei algo gostoso no ar. Não era teu perfume. Proclamaram teu nome composto. Não sabia que o ar tinha fragrância de tua presença, de intuição. Fizera das janelas um jogo de curiosidade. Esquerda ou direita, não importava. O quintal estava mais quente naquele momento. Não tinha chuva, não precisava. Não fora convidada. Tu foste. Intuitivamente. Gratuitamente.

Senti tua falta de como nunca tivesse sentido. Não veio forte. Veio de um modo interessante: sutil. A sutileza que se percebe nas coisas é como deitar contigo debaixo dos cobertores e trocar teu nome por Rosa sem espinhos. O jardim estava mais quente naquele momento. Beijaste o Girassol como se acalmasse o sol do inverno sem preocupação em se queimar. Não tinha interferência, não precisava. Não fora convidada. Tu foste. Calmamente. Furtivamente.

Não aconteceu nada demais. Mas eras o demais daquele momento. Pequeno momento de troca de palavras, olhares e uma despedida sem ida. O escuro em que me encontro não me lembra dos nossos tempos ruins. Não tivemos tempos ruins. Nosso conhecimento mútuo que era de se fazer esquecer.

Quero te ter por momentos. Pois lembro em que experenciava coisas extasiantes em alguns momentos da minha vida que foram únicos, fora de si. Os nossos momentos são fora de si. Uma experiência que não se tem a todo momento, mas que a todo momento se tem uma nova experiência. O roteiro pode se repitir, mas com palavras deliciosamente escritas diferentemente das anteriores, vicio no teu livro. Curioso fico para saber da página seguinte. Mas não viro mais a página antes de ler até o ponto final.

Não és perfeita. Tampouco sou. Nesta escuridão à meia-luz de uma vela decorativa somos alguma coisa mais intrigante que a página que acabei de virar.

Apago a vela, mas a chama continua acesa.

2 comentários:

Clarissa de Andrade Correa disse...

"Mas não viro mais a página antes de ler até o ponto final."

teu orgulho pelo texto te fundamento. Ficou lindo. Deu pra sentir a luz das velas.

Karina disse...

UAAAAAAU, ameeeeeeeeieeee!!!