segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Menor que

Jogo com o corpo para sua falsa atitude,
sufoca a negritude dos meus sonhos,
torce da arquibancada, olha a ola,
a onda da rosa toda despetalada,
mulher com grito enrascado,
dança com passo tropeçado,
toma o meu pecado,
o único do mundo,
diminui tudo,
vai indo lá,
não sei,
esque
ce.

Se,
bem que,
a usura minha,
a fratura que opera,
joga pra cima o odor,
não ligo pra dor já que ela,
ela liga pra mim do jeito abrupto,
pensam de mim a maneira de dará,
não darei mesmo o que não posso pescar,
a minha ponta de lança é de doer coração ouvido,
tudo bem que o mal me quer é a nação rubro-negra,
os cantos em que jogo são cantos de música em fim de festa,
sou o desânimo que me roubaste, a vírgula fora que atesta, você não presta.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Empoeirado

Aos passos do Deus quase onipotente, o forró toma conta da vila. Não tem casebre nem fila. Tem gente boa e malandragem crua. A lua cheia só vem pra somar o quadro de barquetes e barconetes feitos do nordeste. Estou fora de latitude. O suor que toma conta da dança me lembra o samba que afiava ponta de lança. Não é atoa que errava o passo. Não era samba, não era frevo. Era o mesmo que abalava a folia da sua alma sobreposta. Era a brasilidade que ecoa. Era a risada safada de todas as noites afogadas em núpcias.

Era a muié, era o homi, era tudo que te consome. Era dois pra lá, era dois pra cá, era a dois que se fazia cantar o sabiá. Era apenas dois elementos, o corpo em movimento e a música pra sintonizar. Não tinha problema, náo tinha sinhá. Tinha um calor ardendo pra lá de lascar. Não era Miúxa ou Robertinho Menescal. Era a tritura do liquidificador paradoxal. Era a mistura brasileira batendo asa feito pardal. Não tinha crítica, só tinha mística natural.

O nosso rock n roll era a dois, o nosso apetite sexual era regrado às coxas. Te pego para lá, te pego para cá, finjo que vou e volto. Sou uma dança namoradeira. Sou uma puta enrascada. Toda enrabichada pelo trabalho em que dedico essa dança malemolente. Arde que nem fruta decente. Tinha sorriso, tinha choro do cavaco. Tinha um gosto doce e a cerveja com um tom amargo. Nada de amargura, nada de frescura. Era um pé atrás do outro. Era um beijo gostoso, era uma mão boba saliente. Tirem as crianças da sala, coloquem-nas no arrasta pé, no arrasa quarteirão, no arrasta corpo a corpo. Ataque e defesa pessoal em dança pra lá e pra cá.

Tinha uma moça em que me apaixonei. Tinha uma coisa em que me encuquei. Não adianta chorar o passo derramado. A sina de um forrozeiro de mal com a vida é a vida que maltrata o passo. Não tropece na lama da emoção e nem na neve da ilusão. Isso aqui é Brasil e o que tenho a oferecer é um baita tesão de dançar o forrózão.

Dois pra lá, dois pra cá - que calor, vem aqui, tesão, me dar aquele giro de alegria.
O forró não é triste, o forró não vira alpiste. Apenas vira o baião que coloco pra dentro do teu coração.

Vem coisa linda!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Manobrista


Não sei se sinto calor ou frio, se o que me queima é o suor ou o Rio. Perto ou longe de você me faz perecer 1 kilograma de alma. Enquanto olho pro chão, enquanto encontro o não, pareço ermo, seco diante uma chuva de verão. Chuto o aguaceiro para a minha ira tomar as gotas da alegria. O passado fica mais distante, meu passo está mais adiante na esquina vazia. Meninos e meninas soprando bolhas de sabão como eu fazia. As gotas grossas de chuva sabotam as bolhas de peripécias infantis como enroscam na minha pele fosca que arde depois de um devaneio de prazer solar.

Um homem que vaga, não falha. Preenche. Eu não vago. Estou vago. Do teu sorriso em minhas orelhas, das tuas risadas em minha boca, da tua carne na minha alma, da tua companhia na minha satisfação. Que queres? O que eu quero? Sabes. Perto de um frescor que bate em minhas entranhas, sigo coisas desconhecidas, me perco em veias estranhas, do qual a incerteza é dada como certa. Escrevo porque enlouqueço, te quero porque esqueço de tudo que me corrói, mesmo sabendo que o meu atual corroer é não ter você.

Já não me sinto especial, mas sei que especialmente tenho uma surpresa para você. E que os fogos na rua, a arranhura na garganta, as inconsequências que venho a tomar, são os desequilíbrios que teu sorriso, tuas risadas, tua carne e tua companhia me vêm ausentar.

Estaciona. Estou vago.