domingo, 12 de dezembro de 2010

Empoeirado

Aos passos do Deus quase onipotente, o forró toma conta da vila. Não tem casebre nem fila. Tem gente boa e malandragem crua. A lua cheia só vem pra somar o quadro de barquetes e barconetes feitos do nordeste. Estou fora de latitude. O suor que toma conta da dança me lembra o samba que afiava ponta de lança. Não é atoa que errava o passo. Não era samba, não era frevo. Era o mesmo que abalava a folia da sua alma sobreposta. Era a brasilidade que ecoa. Era a risada safada de todas as noites afogadas em núpcias.

Era a muié, era o homi, era tudo que te consome. Era dois pra lá, era dois pra cá, era a dois que se fazia cantar o sabiá. Era apenas dois elementos, o corpo em movimento e a música pra sintonizar. Não tinha problema, náo tinha sinhá. Tinha um calor ardendo pra lá de lascar. Não era Miúxa ou Robertinho Menescal. Era a tritura do liquidificador paradoxal. Era a mistura brasileira batendo asa feito pardal. Não tinha crítica, só tinha mística natural.

O nosso rock n roll era a dois, o nosso apetite sexual era regrado às coxas. Te pego para lá, te pego para cá, finjo que vou e volto. Sou uma dança namoradeira. Sou uma puta enrascada. Toda enrabichada pelo trabalho em que dedico essa dança malemolente. Arde que nem fruta decente. Tinha sorriso, tinha choro do cavaco. Tinha um gosto doce e a cerveja com um tom amargo. Nada de amargura, nada de frescura. Era um pé atrás do outro. Era um beijo gostoso, era uma mão boba saliente. Tirem as crianças da sala, coloquem-nas no arrasta pé, no arrasa quarteirão, no arrasta corpo a corpo. Ataque e defesa pessoal em dança pra lá e pra cá.

Tinha uma moça em que me apaixonei. Tinha uma coisa em que me encuquei. Não adianta chorar o passo derramado. A sina de um forrozeiro de mal com a vida é a vida que maltrata o passo. Não tropece na lama da emoção e nem na neve da ilusão. Isso aqui é Brasil e o que tenho a oferecer é um baita tesão de dançar o forrózão.

Dois pra lá, dois pra cá - que calor, vem aqui, tesão, me dar aquele giro de alegria.
O forró não é triste, o forró não vira alpiste. Apenas vira o baião que coloco pra dentro do teu coração.

Vem coisa linda!

Um comentário:

Julia Maria disse...

hahahahaha... eita raparigo saliente!