domingo, 27 de junho de 2010

O Muro

Num balanço do coração jogo todas as peripécias acima, não tenho certeza se está frio. Perdemos a prisão de outrora, mas ganhamos a liberdade do saber querer. Do saber fazer os caminhos travessos, dos entreolhares que me forçam o sorriso maroto, todo o sentimento de um garoto que se esconde atrás de barba, bigode e um olho inocente. Não temo tudo o que sente, temo a verdade atrás dos muros, das degradações que tiro o proveito, na construção do que eu não sei dizer.

Rompi a marcha ré, maltratei toda fé que me fazia mal. Não sei o que é bom e ruim, sei onde fica o chão onde sapateio os devaneios do dia-a-dia. Temos os bueiros dos meus lampejos, as máscaras onde guardo os meus desejos, a dança onde espanco a minha libido. Tirei os gatos em cima do muro, coloquei os uivos blasfemados no meio da noite, ergui a lua como um ponto de clareza de toda incerteza que me faz feliz.

Se eu tivesse uma cama da felicidade, faria dela uma só unidade entre mim e suas pernas, colocaria todo o seu vestido ardente nas paredes, jogaria fora todo aquele catete que fazia você chorar. Fecharia seus olhos só com um gemido, tomaria todas as suas mãos como se tivesse com a mente tonta, todos os bons distúrbios que me dou conta só para te ver desnortear.

Os gatos dos muros andam sozinhos, repousam sem saber o por quê, compõem a cena do prazer. Sem saber o por quê. Acho que as notas foram demais tocadas, as saudades foram demais ignoradas e não sei com que braço eu arreio a mão. Me explica como eu vou sair, pois não sei com que olhos inocentes tomo as suas crenças, do dia em que olhei pro meu coração.

Tiro quase toda fúria, aplico um bocado de fadiga, choro a minha felicidade de ser, em toda perdição eu me achar sem querer. Nos teus olhos brinco de mal me quer, me faz desprender do copo e da colher que misturo, toda essa excitação de um tempo em que coloquei todo o seu escopo no meu coração cambaleado pelas suas peripécias, travessuras e ternuras do seu eu encostado em um muro lotado de esconderijos mal lapidados. Eu desenho uma obra mais bela, mas mais vacilante que a sua pedra passional. O meu prazer colossal, atemporal.

Nenhum comentário: