sábado, 5 de junho de 2010

Ruptura


Correndo de você eu tropeço em minha saia. Saia branca longa e rodada que envolve o teu peito. Enrolando-se em você toda como se grudasse na sua pele. Eu tropeço em você. Piso nos teus pés, cuspo na tua boca, choro nos teus olhos. Corro com as duas mãos puxando a saia. Pesada. Molhada da tempestade que descarregou de repente.

Estapeio-te a cara querendo esquentar a sua distância. Enrouqueço gritando o teu nome com raiva. Sem raiva. Escuto a tua risada malévola na chuva e vejo os teus olhos negros puxando-me para trás. Para trás. Não sei mais diferenciar o que é lágrima e o que veio de cima. De você.

Não sei mais dizer o que é teu e o que é meu. Te reconheço na minha risada e nos meus gestos. Acaricio o meu cabelo, pensando que faço cafuné em você. Entrelaço-me os próprios dedos, querendo sentir apenas uma das mãos e não as duas. Esqueço-me em você. Ou será voce que se esqueceu em mim?

Eu continuo correndo e caindo no meu desespero. Minha saia virou uma extensão de uma lama podre. Uma noiva da pântano. Uma noiva das selvagerias e das incompreensões. Uma noiva sem palavras, sem rimas nem prosas. Uma noiva sem marcha nupcial. Agora eu já corro por não ter sido impedida. Não te sinto me seguir, não te vejo puxar minhas mãos, não escuto os seus gritos. Não está mais enrolado pelo peito à minha saia.

Já corro por não ter motivo de parar. Correr parece fazer mais sentido. Talvez você esbarre comigo no caminho. Talvez eu desmaie nos teus braços e fique com alguns arranhões no rosto. Talvez você chore dizendo que me ama que me ama que me ama. Talvez você me chame de louca. Talvez você diga que tem medo medo de mim. Talvez você rasgue o meu vestido e me deixe nua. Nua.

Nua de meus pesados sonhos quebrados. Nua de meus desejos escorridos. Nua de minha vazia utopia. Nua da brancura dos contos de fada. Suja como uma criança que brincou a tarde inteira. Exausta como uma mulher. Talvez a sua tempestade lave os meus medos e meus ceticismos. Talvez você consiga arrancar-me de minha tremedeira ridícula.

Talvez você consiga marcar-me com os seus dedos e desenhar na minha coxa, a fantasia de borboletas no estômago e sereno no final da tarde.

Sereno.

3 comentários:

Julia Maria disse...

Ai, amigaaaa... seu texto me despertou sensações que não sinto há tempos, to arrepiada, com os olhos molhados, e com borboletas no estomago. Sério, me vi!

Gabriel Zambrone disse...

Intenso. Vívido. Sofrido. Cruel. Adjetivado. Exclamado! - vejo isso em um palco. com uma puta atriz no meio, vestida de noiva e com maquiagem borrada. o resto são aplausos e limpadores de lágrimas sentidas.

DENISE disse...

Eu me emocionei...senti cada palavra...quanta paixão...quanta intensidade. Vejo também isso muito bem num palco mas com uma bailarina em seu solo sozinha.