domingo, 23 de maio de 2010

Femme Fatale



Marcas no chão. Eram aqueles vestígios de estupidez novata. Não tinha cor, não tinha cheiro. Tinha intenção de deixar toda a sua ira estampada na ponta da faca, na ponta dos dedos. Suas pernas eram vias e eu era o laço. Minha pata sentava sobre suas costas, macias. Sua falsa sensação de segurança era mais prazerosa do que a minha lambida áspera em dia de garganta seca. Meus olhos são as únicas lembranças da beleza pura. Meu ímpeto é para saltar o susto da sua alma. Deixar seu corpo nú de reações contrárias. Eu sou o contrário. Te viro de ponta-cabeça, enforco teu pescoço com a maciez do meu rabo e ainda apareço diante dos teus olhos e mostro quem tu és. Eu sou teu espelho.

Dentro de mágoas derretidas, todo o desgosto saturado de miudez, toda falta de amor próprio serão fervidas em um tacho de repulsa. Expurga esse mal delicioso da sua carne vermelha. Alimente-me. Sou um morcego andante. O ar que sopro no seu ouvido é o vento da depreciação deflagrada. É a fome de devorar tua carne fraca, porém dos deuses. Sem letras maiúsculas. Já basta a minha ação viril que usurfrui teus restos e destitui teus versos.

São três passos para o cortejo do horror. O prazer de devorar e o prazer de ser devorada se misturam. Teu suor tonaliza vermelho e escorre com o louvor da seiva da selva. Tua carne desmancha na minha boca afiada como polpa de fruta gelada. Depois do ritual do prazer hedônico, sobra tempo para ter saudades do ventre, do colo, da nuca, e de tudo aquilo que um dia foi você. Meu único desejo agora é que você tenha mais 6 vidas.

Miau.

Um comentário:

Clarissa de Andrade Correa disse...

A-DO-REEEEEEEEEEEEI
muito bom. Captou a parada.

"Já basta a minha ação viril que usurfrui teus restos e destitui teus versos."

Congrats