terça-feira, 18 de maio de 2010

Eu volto

Talvez eu volte. Talvez eu comece a correr com as mãos nos bolsos. Pode ser que eu vá andando. A música me acopanharia. Calma. Eu soltaria meus pulsos das cordas dos violões e deixaria minha voz vagar solta. Como um aviso. Espera. Espere que os meus cabelos te enrolem o pescoço. Espere. Aguarde.

Eu andaria - ou correria - durante todos os dias. Não pararia. Não seria capaz de interromper. Se meus pés deixassem de socar o chão eu poderia despencar. Poderia correr na outra direção. Poderia voltar para onde estava. Um minuto de pensamentos poderiam me corroer. Eu poderia enrolar-me nas cordas de novo. Poderia ficar muda outra vez. A música da minha respiração seria leve. Quase inaudível. E eu queria a voz. Queria dizer o não cantado. Queria cantar o inaceitável.

Sim, eu estou voltando. Talvez esteja. Pode ser que eu esteja caminhando. O sono me acordaria. Com seu silêncio de cigarras, me confundiria com os sons que eu desejaria ouvir. Como pequenos trechos do futuro, me viriam imagens dos meus sonhos que eu não estava sonhando. Os sonhos chegavam sem mim. Andavam sozinhos, vagando pelas estradas. Eu tentava capturá-los. Minhas unhas os incomodava, mas eles seguiam batendo-se e misturando-se. Comigo.

Espere. Acredite se quiser. Acredite que eu enviei meus sons para convidá-lo a me encontrar. Siga-me. Siga meus fantasmas. Beije os meus rastros. Acalme o meu sono que não se cala. Deixe-me deitar em teu colo e dormir. Eu voltei. Como não havia dito que faria. Manda essa vadia sair do meu lugar. Meu amor. Eu avisei que não voltaria.

Mas eu não deixei de puxar as cordas. Eu não deixei de te enrolar nos meus cabelos. Embalei como um bebe que chega sem aviso. Você deveria imaginar. O que eu digo não importa a não ser que você consiga ler o meu contrário.

2 comentários:

Gabriel Zambrone disse...

"O que eu digo não importa a não ser que você consiga ler o meu contrário."

comentar isso é covardia!

Decupe o que eu faço que decupo o que eu digo.

Julia Maria disse...

com certeza é covardia mesmo!
não sei da onde vc tira essas coisas... lindo demais! eu sei que ainda vou em muitas noites de autógrafos dos seus livros!