quinta-feira, 29 de abril de 2010

Superfície


Você podia correr.
Sair daqui do meu lado, parar de resgumungar, de murmurar. Parar de puxar os seus dedos e estalar os meus. Simplesmente se cale de toda a sua tristeza.

Eu tentei te escutar, tentei te entender e quis te explicar. Mas você só quis continuar o seu diálogo de umbigo. E eu, não tenho paciência. Agonia essa sua quietude. Chore um pouco. Mexa-se. Dê-me alguns tapas de raiva. Mas pare de concordar sem escutar-me. Não quero sua concordância. O que eu digo não é aceitável! Se fosse, eu não diria.

Suas superficialidades me irritam. Deixe de anunciá-las para o mundo. Cale-se de palavras rasas. Silencie-se de todo o seu drama bem calculado. Escreva sem contar as letras ou reler os parágrafos. Não expresse aquilo que não tem profundidade. Não exponha aquilo que não é real. Não te entendo. É difícil compreender personagens mal construídos. Você esqueceu de alguns detalhes e eu analisei todos.

Ah, como eu queria te furar com as minhas unhas. Como eu queria ver o teu sangue exposto como córrego de intensidade. Queria me cortar com seus papéis espalhados pelo chão. Queria escorregar nos bilhetes em que escrevera "Volto logo". Relaxe o teu sorriso congelado. Retire a sua calma transparente. Apague a sua dor fantasiada.

Cansa-me.

Um comentário:

Carolina Bastos disse...

"O que eu digo não é aceitável! Se fosse, eu não diria." .... cara, sensacionaaaaaaaaaal, puta merda