Uma noite de comidas saturadas por aqui espanta-se o frio. Assim como andar em uma grande minhoca motorizada com garçons, guardadores de carros, biscates e adolescentes sedentos por lançar novas tendências fashionistas. As ruas são da mesma largura de onde venho. A diferença é que as calçadas por aqui são meros brincos inúteis em uma conquista amorosa com seus enlaces finais.
Em rios consagrados que se fazem a navegação turística por outros lugares do mundo, aqui é a repulsa por completo. O espelho dágua barrenta que perpreta nossos olhos é o mesmo que invade com tristeza nossas falhas nasais. Os parques com árvores são imensos para dar a falsa sensação de um lugar verde. Um verde cinza. Em greve vívida de cor.
Estamos em um lugar que seu sinônimo é status quo. O luxo falso nova iorquino empurra a lavagem cerebral para o ter. Mesmo que eu tenha o bastante. O bastante por aqui é excitamente pouco. O carnaval é produto de samba atravessado. O nordeste do país empurra com a esperança. O sudeste agradece com a bonança.
Os shoppings são quentes para tentar aliviar a inevitável frieza dos impulsos pessoais. A sensualidade se limita ao decote de seios enrustidos por ar puro. Não se notam as pernas, a leveza. Tudo é pesado. Talvez na tentativa de serem a metáfora de prédios arranha-céu envidraçados e concretizados. Prédios são oponentes, carregados, porém frios.
A praia daqui são as vitrines. A água de côco daqui é refrigerante. O samba daqui é eletrônico. O calor daqui é o frio. O sol daqui é a garoa. As necessidades daqui são imposições. O branco daqui é branco para espantar o cinza do ar que respiro, dos prédios que do meu olhar miro, e do asfalto que daqui de cima me atiro.
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