segunda-feira, 9 de maio de 2011

O teu som dentro de mim

As teclas das tuas costelas, ossos sustenidos de carinho. Falar de música ou cantar o teu corpo. São dúvidas que transformam um momento mágico de sabedoria humana. Sabedoria que culmina em uma catarse simples, porém não simplória. Nós ali, na cama. Indefinidos como um todo. Indefinidos por completo. Talvez esta seja a graça. Não tem nada definido.
É uma música que não se acaba.

Sussurros incompreensíveis até para quem os profere. Que delícia no ouvido. Meia luz. Aquela luz tímida, mas de olhos entreabertos. Não adianta falar do momento se não viver o momento. Não adianta falar de música se não ouvir a música. Não adianta falar de felicidade se não sentir o gosto distante do teu sorriso.

Muitos falam, muitos agem, muitos amam, muitos entendem. Mas muitos mentem. De que adianta essa verdadeira mentira se eu prefiro a falsa verdade? O som dos teus passos surgindo da escada desenfreiam uma ansiedade sem isolamento acústico. O ranger da porta arrepia toda a minha espinha sedenta pelo teu toque. Um piano toca a tua seda nupcial. Um tango lisongeia tua experiente ingenuidade. Um rock toma conta da vidraça, a virilidade finalmente encontra a sua verdadeira sobriedade insana. E, finalmente, a música erudita permeia todos os meandres, todas as nossas fábulas, peripécias e subversões amorosas que nós mesmos compomos.

Jogo fora toda esmola que me deram. Aceito os tapas que esqueceram de me providenciar. A música que desenfreio na rua não é nada sem tua inspiração melódica, sem teu canto dos deuses que não nos acudam, sem tuas composições repletas de trejeitos bipolares.

Não me importo de tocares outra música, outro tom, outra nota, outro volume. Me importo, agora sim, de tocares longe de mim.

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